Mensagens

A mostrar mensagens de junho, 2004
De Volta ao Carlos Tê e ao Rui Veloso Trovas Vicentinas Vós que vos ides por ganância Debaixo da capa do cruzado Buscando no incerto e na distância A mina delirante do el dourado Vós que deixais só na rectaguarda Um farto giniceu desamparado Não sentis testa que vos arda Durante o sono repousate do soldado Ouvi este lado trovador Por feitos de além - mar pouco tentado Não se deixa uma esposa sem amor Com o trevo da mocidade eriçado E vê-las no poleiro das janelas Gastando seus furores em vãs intrigas É vê-las nas ribeiras com as barrelas Contando oq ue só deus sabe às amigas Quanta malícia mal ardida Tangem seus olhares pelas esquinas Soubesseis os sorrisos de fugida Que delas merecem minhas rimas E vieis que melhor que a riqueza É ter alguém à noite na cama Que o diga a presunçosa e vã nobreza Que goza a especiaria ao pé da dama Por isso se as testas vos ardem No lume verrinoso do adultério Às línguas viperinas que vierem Dizei que ardem
À vida É vão o amor, o ódio, ou o desdém; Inútil o desejo e o sentimento... Lançar um grande amor aos pés de alguém O mesmo é que lançar flores ao vento! Todos somos no mundo "Pedro Sem", Uma alegria é feita dum tormento, Um riso é sempre o eco dum lamento, Sabe-se lá um beijo de onde vem! A mais nobre ilusão morre... desfa-se... Uma saudade morta em nós renasce Que no mesmo momento é já perdida... Amar-te a vida inteira eu não podia, A gente esquece sempre o bom de um dia. Que queres, meu Amor, se é isto a vida! Florbela Espanca
Pedra Filosofal Eles não sabem que o sonho é uma constante da vida tão concreta e definida como outra coisa qualquer, como esta pedra cinzenta em que me sento e descanso como este ribeiro manso em serenos sobressaltos como estes pinheiros altos que em verde e oiro se agitam como estas árvores que gritam em bebedeiras de azul eles não sabem que o sonho é vinho, é espuma, é fermento bichinho alacre e sedento de focinho pontiagudo que fuça através de tudo no perpétuo movimento Eles não sabem que o sonho é tela é cor é pincel base, fuste ou capitel arco em ogiva, vitral Pináculo de catedral contraponto, sinfonia máscara grega, magia que é retorta de alquimista mapa do mundo distante Rosa dos Ventos Infante caravela quinhentista que é cabo da Boa-Esperança Ouro, canela, marfim florete de espadachim bastidor, passo de dança Columbina e Arlequim passarola voadora pára-raios, locomotiva barco de proa festiva alto-forno, geradora
Fio de vida Já fiz mais do que podia Nem sei como foi que fiz. Muita vez nem quis a vida a vida foi quem me quis. Para me ter como servo? Para acender um tição na frágua da indiferença? Para abrir um coração no fosso da inteligência? Não sei, nunca vou saber. Sei que de tanto me ter, acabei amando a vida. Vida que anda por um fio, diz quem sabe. Pode andar, contanto (vida é milagre) que bem cumprido o meu fio. Thiago de Mello Para desanuviar do TÊ e do RUI e a pedido de várias familias.
Trovas Vicentinas Carlos Tê / Rui Veloso Vós que vos ides por ganância Debaixo da capa do cruzado Buscando no incerto e na distância A mina delirante do el dourado Vós que deixais só na rectaguarda Um farto giniceu desamparado Não sentis testa que vos arda Durante o sono repousate do soldado Ouvi este lado trovador Por feitos de além - mar pouco tentado Não se deixa uma esposa sem amor Com o trevo da mocidade eriçado E vê-las no poleiro das janelas Gastando seus furores em vãs intrigas É vê-las nas ribeiras com as barrelas Contando oq ue só deus sabe às amigas Quanta malícia mal ardida Tangem seus olhares pelas esquinas Soubesseis os sorrisos de fugida Que delas merecem minhas rimas E vieis que melhor que a riqueza É ter alguém à noite na cama Que o diga a presunçosa e vã nobreza Que goza a especiaria ao pé da dama Por isso se as testas vos ardem No lume verrinoso do adultério Às línguas viperinas que vierem Dizei que ardem pela grandeza do i
Mulher De Armas Carlos Tê / Rui Veloso O meu amor Quando se foi Pela barra desse rio Disse que vinha Mas não veio mais Trocou-me por um navio Ao meu amor Não lhe perdôo Com ele não me ter levado Sou mulher de armas Queria ver mundo Conquistá-lo ao seu lado Aqui estou eu viúva e orfã Meu destino é carpir O dele é nobre Navega e descobre E eu nada tenho a descobrir O meu amor Onde está ele Trocou-me por uma quimera É um mundo de homens A fazer a guerra E de mulheres sempre à espera Ao meu amor Mando lembranças Quando sózinha me deito Queria amar outro Mas partiram todos Não ficou nenhum de jeito Refrão Meu coração Como estás tu Trocado por um convés Vê minhas armas Já se calaram E tu perdeste outra vêz Quando me lembro Como tu eras Mais largo do que esse mar O amor que tinha Dei-o à toa A quem o queria agarrar Refrão
Praia Das Lágrimas Carlos Tê / Rui Veloso Ó mar salgado eu sou só mais uma Das que aqui choram e te salgam a espuma Ó mar das trevas que somes galés Meu pranto intenso engrossa as marés Ó mar da indía lá nos teus confins De chorar tanto tenho dores nos rins Choro nesta areia salina será Choro toda a noite séco de manhã Ai ó mar roxo ó mar abafadiço Poupa o meu homem não lhe dês sumiço Que sol é o teu nesses céus vermelhos Que eles partem novos e retornam velhos Ó mar da calma ninho do tufão Que é do meu amor seis anos já lá vão Não sei o que os chama aos teus nevoeiros Será fortuna ou bichos-carpinteiros Ó mar da china samatra e ceilão Não sei que faça sou viúva ou não Não sei se case notícias não há Será que é morto ou se amigou por lá
Calmaria Carlos Tê / Rui Veloso Foi medonha a tempestade que a agulha quase enlouquecia Era tal o negrume do céu que não havia noite nem dia Já eu pensava na morte fez-se súbita acalmia Que nos deixou à sorte sem vento na maresia Relembrei velhos pilotos relatos destas andanças Piores que certos maremotos às vezes só certas bonanças Reparamos os danos nas velas que o vento havia de chegar Mas foram passando os dias e nós sem nada mais a inventar E era medonha a calmaria Segui o vôo de albatroz fisguei peixe-voador Cantei para ouvir a minha voz recapitulei cada amor Li a noite constelada na folha do firmamento Vi a várzea azul semeada de àguas sem movimento A mando do capitão fizemos procissão Missa e novena cantada pescamos um tubarão E depois de o cegar no convés com ele fizemos tourada Mas do vento de feição é que ninguém sabia de nada E era medonha a calmaria Quase a dez dias de pasmo no alto mar sem aragem Com o sol tisnando a prumo pus fim à minha v
Faena De Mar Carlos Tê / Rui Veloso Fiz-me à estrada de lisboa sem um chavo na algibeira queria aprender um ofício e fazer uma carreira Vindo do ribatejo lá onde o touro se pega Picado pela fome e a fugir da peste negra Ao fim de três semanas vivia de caridade Com a turma de mendigos que pedia pela cidade Ouvi lêr um edital na rua dos tintureiros A pedir gente de brega soldados e marinheiros Pelo soldo pela comida sem medo de ir à aventura Era mesmo essa a vida de que eu vinha à procura Ao passar no cais de alfama vi grandes preparativos Dei o nome ao escrivão e juntei-me aos efectivos Aguenta toureiro ensaia a tua faena O touro é sendeiro e escorrega muito a arena Toureia o destino improvisa a tua finta É sobre o joelho que melhor se tira a pinta Veio o dia da largada ondulavam os pendões Faltava gente à armada tiveram de ir às prisões Arrebanhar voluntários entre a nata da escumalha Rufiões e salafrários grandes barões da navalha Havia choro no c
Cruzeiro Do Sul Carlos Tê / Rui Veloso Sou um pobre timoneiro Na noite imensa do mar A sul da minha solidão o cruzeiro Luz no céu para me guiar Lanterna de navegar Alivia-me a pressão Que o leme está a queimar Estamos longe do destino E eu não sei onde é que isto vai parar Cruzeiro do sul Lua não troces de mim Tão longe de casa eu sei O medo dança com as sombras E eu vejo o que inaginei Estou sózinho junto ao leme Não é tempo de poetas Já tombaram mais de dez E nós ainda aqui às voltas Procurando coisas que deus não fez Cruzeiro do sul
Canção De Marinhar Carlos Tê / Rui Veloso Tome-se o astrolábio, meça-se a latura solar Dê-se mais grau menos grau, conforme o balanço do mar Imaginem-se latitudes invisíveis meridianos Que a lenta ciência se apure nos astros e nos oceanos Rume-se ao sul sidério e às indias orientais Complete-se o planisfério com todos os novos locais Proceda-se sempre de acordo como manda o regimento Fazendo um diário de bordo por causa do esquecimento Já conheço o sete-estrêlo que me guia e orienta Hei-de vêr esses bazares de canela e de pimenta Anote-se boca de rio cabo maré e monção Costume de gente e feitio tudo fique em relação E mais o que o medo inventar que o senso há-de aclarar Assim se descreva e reúna em livro de marinhar Ao mundo ache-se o centro tire-se até bissectriz Navegue-se por fora e por dentro como se fosse um país Alterem-se as dimensões nas cartas e nos roteiros Até que ele caiba nas canções dos cafés de marinheiros Já não oiço as sereias j
Lançado Carlos Tê / Rui Veloso Cometi crime de amor à morte fui condenado Mas antes do cadafalso a um capitão fui chamado Que partia para a guiné e me prometeu perdão Se fosse numa galé e aceitasse a missão De à sorte ser lançado na má terra do gentio Sózinho e abandonado durante meses a fio Entre o inferno e o algóz dançava meu triste fado Medi os contras e os prós e escolhi ser lançado E assim fui embarcado até às costa da guiné E em terra fui deixado com biscoito medo e fé Com ordem de haver língua com todas as criaturas Saber das fontes do ouro e conhecer essas culturas Refrão: Fui lançado às feras o mato foi a minha casa Não havia primavera nem outono E era sempre um estio em braza Venci as febres do mato e o veneno das cobras Cativo levei mau trato paguei pelas minhas obras Das gentes tornei-me amigo com artes que já nem sei E ao fim de muitos meses era visita dum rei Fiz-me amante de gentia com ela juntei fazenda A vida até já sorria feliz era a
Cabo Sim Cabo Não Carlos Tê / Rui Veloso Para lá do cabo não limite da criação Fica o mar das trevas onde não foi mouro nem cristão Vou rumar ao turbilhão de brumas e macaréus Passá-lo é minha missão já me encomendei aos céus Para lá do cabo não vou e voltarei ou não A sul passei muitas léguas com o deserto a par Anotei ventos e àguas na carta de marear Até que surgiu outro cabo bramindo como um trovão De treva cem vezes pior que a treva do cabo não Para lá do bojador vou e voltarei ou não Era um mar caldo de enxofre que rugia furibundo Tragando barcas e homens até ao limbo do mundo Estava guardado para mim ir buscar toda a coragem Conter a bordo o motim e pôr de pé a marinhagem Para lá do bojador vou e voltarei ou não Passei a ponta medonha e o mar era só àgua e sal Mas na costa mais areia e de vivalma nem sinal Cabotamos mais abaixo ao correr da areia e do tempo Rumo à estrela do sul para lá do cabo branco Para lá do cabo branco vou e volta
Este é o segundo poema que vos deixo retirado do album "Auto da Pimenta", de Rui Veloso, edição comemorativa dos 500 anos dos Descobrimentos Portugueses. Conto aqui postar diáriamente, a partir de hoje, os restantes. Na verdade, este é o 1º tema do album sendo "São Miguel" o 2º. Por razões que, me parecem óbvias, alterei a ordem. Para quem não se lembra, existiu à época uma enorme polémica acerca da escolha de Carlos Tê e Rui Veloso para escreverem estes textos. Muitos dos intelectuais e pseudo intelectuais, onde se enquadram, Carlos do Carmo, Simone de Oliveira, Ruy de Carvalho, Izabel do Carmo, Nuno da Câmara Pereira, José Hermano Saraiva, José Matoso, Jaime Nogueira Pinto e outros que agora não me lembro, achavam que se deveria editar um disco de fado. Por mim só posso dizer que ainda bem que assim não foi. Sete Partidas Carlos Tê - José S. Martins / Rui Veloso Ouço uma voz que me canta velhas canções esquecidas E embala o meu sonho num cais de se
São Miguel Carlos Tê / Rui Veloso A oeste de finisterra ficam as ilhas perdidas Disse-me um corso galego que um dia as viu e perdeu As velhas cartografias também o dizem assim Como ter fortuna de as achar no mar oceano sem fim? Vinha um dia das Canárias ao largo com vento a favor Seguimos o voo das aves que tomamos por açores Até que ouvi do mastaréu a voz rouca do gajeiro Terra à vista lá ao longe no meio do nevoeiro Ó que ilha tão formosa Pisei ao sair do batel Dei-lhe então nome de santo Em dia de São Miguel
Imagem
Porque hoje é o Dia da Raça Carlos Tê
Ode à Paz Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza, Pelas aves que voam no olhar de uma criança, Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza, Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança, pela branda melodia do rumor dos regatos, Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia, Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego, dos pastos, Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria, Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes, Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos, Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes, Pelos aromas maduros de suaves outonos, Pela futura manhã dos grandes transparentes, Pelas entranhas maternas e fecundas da terra, Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra, Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna, Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz, Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira, Com o teu esconjuro da bomba e do algoz, Abre as por
"Wish You Were Here" So, so you think you can tell Heaven from Hell, blue skies from pain. Can you tell a green field from a cold steel rail? A smile from a veil? Do you think you can tell? And did they get you to trade your heroes for ghosts? Hot ashes for trees? Hot air for a cool breeze? Cold comfort for change? And did you exchange a walk on part in the war for a lead role in a cage? How I wish, how I wish you were here. We're just two lost souls swimming in a fish bowl, year after year, Running over the same old ground. What have we found? The same old fears. Wish you were here... Roger Waters (Pink Floyd) 1975