Mensagens

A mostrar mensagens de julho, 2004
Ecloga Sonhei contigo embora nenhum sonho possa ter habitantes, tu a quem chamo amor, cada ano pudesse trazer um pouco mais de convicção a esta palavra. É verdade o sonho poderá ter feito com que, nesta rarefacção de ambos, a tua presença se impusesse - como se cada gesto do poema te restituísse um corpo que sinto ao dizer o teu nome, confundindo os teus lábios com o rebordo desta chávena de café já frio. Então, bebo-o de um trago o mesmo se pode fazer ao amor, quando entre mim e ti se instalou todo este espaço - terra, água, nuvens, rios e o lago obscuro do tempo que o inverno rouba à transparência da fontes. É isto, porém, que faz com que a solidão não seja mais do que um lugar comum saber que existes, aí, e estar contigo mesmo que só o silêncio me responda quando, uma vez mais te chamo. Nuno Júdice
A Boneca   Deixando a bola e a peteca  Com que inda há pouco brincavam, Por causa de uma boneca, Duas meninas brigavam.   Dizia a primeira: "É minha!" ? "É minha!" a outra gritava; E nenhuma se continha, Nem a boneca largava.   Quem mais sofria (coitada!) Era a boneca. Já tinha Toda a roupa estraçalhada,  E amarrotada a carinha.   Tanto puxaram por ela, Que a pobre rasgou-se ao meio, Perdendo a estopa amarela Que lhe formava o recheio.   E, ao fim de tanta fadiga, oltando à bola e à peteca, Ambas, por causa da briga, Ficaram sem a boneca...   Olavo Bilac
O sol já se escondeu O sol já se escondeu... Precisamente quando, feliz, eu desatei a cantar. (Só por feliz eu cantei). Agora quero acabar, que já me dói a garganta, mas vou ainda cantando, tremendo dar por mim de novo triste assim que esteja calado. (...Como se a minha Alegria nascesse de eu ter cantado). Sebastião da Gama
SONETO DO CATIVO Se é sem dúvida Amor esta explosão de tantas sensações contraditórias; a sórdida mistura das memórias tão longe da verdade e da invenção; o espelho deformante; a profusão de frases insensatas, incensórias; a cúmplice partilha nas histórias do que outros dirão ou não dirão; se é sem dúvida Amor a cobardia de buscar nos lençóis a mais sombria razão de encantamento e de desprezo; não há dúvida, Amor, que te não fujo e que, por ti, tão cego, surdo e sujo, tenho vivido eternamente preso! David Mourão Ferreira, in Os Quatro Cantos do Tempo
Imagem
O que é que eu posso dizer sobre o desaparecimento desta grande Senhora? Nada. Para para além do que ela própria foi dizendo ao longo da sua obra. "A hora da partida soa quando As árvores parecem inspiradas Como se tudo nelas germinasse"