Mensagens

A mostrar mensagens de agosto, 2004
A Funda Arranquei à pele do peito, com os dedos ensangüentados, um retângulo perfeito de cem centímetros quadrados. Estendi-o ao sol a curtir a haurir uns raios que projetam certo incógnito elixir que os detectares não detectam. Depois de bem seco e rijo prendi-lhe, nos quatros cantos, quatro nervos desses tantos com que me franjo e me aflijo. Eis-me de funda na mão no mais ereto dos montes, devassando os horizontes com os pés bem presos no chão, as pernas em ângulo agudo para assentar com firmeza nessa dúvida de tudo tão certa como a certeza. Só, entre os fundibulários, no centro dos meus domínios, como o pastor dos Hermínios na defesa dos contrários, ponho na funda um poema de agrestes arestas vivas, e em rotações sucessivas de celeridade extrema, com todo o vigor do braço, como o vento em torvelinho, lanço o poema no espaço no seu exato caminho. António Gedeão
Take This Waltz Now in Vienna there's ten pretty women There's a shoulder where Death comes to cry There's a lobby with nine hundred windows There's a tree where the doves go to die There's a piece that was torn from the morning And it hangs in the Gallery of Frost Ay, Ay, Ay, Ay Take this waltz, take this waltz Take this waltz with the clamp on its jaws Oh I want you, I want you, I want you On a chair with a dead magazine In the cave at the tip of the lily In some hallways where love's never been On a bed where the moon has been sweating In a cry filled with footsteps and sand Ay, Ay, Ay, Ay Take this waltz, take this waltz Take its broken waist in your hand This waltz, this waltz, this waltz, this waltz With its very own breath of brandy and Death Dragging its tail in the sea There's a concert hall in Vienna Where your mouth had a thousand reviews There's a bar where the boys have stopped talking
Um poema para o dia de ontem Rosa de Hiroshima Pensem nas crianças Mudas telepáticas Pensem nas meninas Cegas inexactas Pensem nas mulheres Rotas alteradas Pensem nas feridas Como rosas cálidas Mas oh! não se esqueçam Da rosa, da rosa Da rosa de Hiroshima Rosa hereditária A rosa radioactiva Estúpida e inválida A rosa com cirrose A anti-rosa atómica Sem cor sem perfume Sem rosa sem nada. Vínicos de Morais
Ecce Homo Desbaratamos deuses, procurando Um que nos satisfaça ou justifique. Desbaratamos esperança, imaginando Uma causa maior que nos explique. Pensando nos secamos e perdemos Esta força selvagem e secreta, Esta semente agreste que trazemos E gera heróis e homens e poetas. Pois Deuses somos nós. Deuses do fogo Malhando-nos a carne, até que em brasa Nossos sexos furiosos se confundam, Nossos corpos pensantes se entrelacem E sangue, raiva, desespero ou asa, Os filhos que tivermos forem nossos. José Carlos Ary dos Santos