Mensagens

A mostrar mensagens de janeiro, 2007

Poema manuscrito nas folhas brancas de um livro e lá esquecido

Não teimes, não insistas, não repitas, mas vive como quem, teimando, insiste, e, porque insiste, como que repete. Esse das sombras o silêncio fluido escoando-se por ti quando não passas, parado que ouves, não mais é que o tempo de hoje em que vives só alheias vidas, de ti alheadas qual de ti vividas. Por outro tempo te criaste impuro, difuso e firme, no clamor de versos que os tempos de hoje reconstroem como delidas cartas um fogacho acendem. Outro que seja, é teu, pois o escutaste na dor de apenas ser, na dor de ouvir quão desatentos menos homens são os homens todos. Teu, sem que teu seja, que destes e dos outros se fará serena ciência de possuírem tudo o que juntares para ser roubado, quando, parado no silêncio fluido, se escoava nele o próprio estar na vida, atento como estavas, poeta como eras daquele ser não-sendo que eram todos em ti, dentro de ti, à tua volta. Jorge de Sena, Peregrinatio ad loca infecta (1969)