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A mostrar mensagens de dezembro, 2007

Natal, e não Dezembro

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Entremos, apressados, friorentos, numa gruta, no bojo de um navio, num presépio, num prédio, num presídio no prédio que amanhã for demolido... Entremos, inseguros, mas entremos. Entremos e depressa, em qualquer sítio, porque esta noite chama-se Dezembro, porque sofremos, porque temos frio. Entremos, dois a dois: somos duzentos, duzentos mil, doze milhões de nada. Procuremos o rastro de uma casa, a cave, a gruta, o sulco de uma nave... Entremos, despojados, mas entremos. De mãos dadas talvez o fogo nasça, talvez seja Natal e não Dezembro, talvez universal a consoada. David Mourão-Ferreira, Cancioneiro de Natal

Estrela

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Estrela que me nasceste Quando a vista mal te alcança Nessa abóbada celeste, Onde a nossa alma descansa A sua última esperança... Estrela que me nasceste Quando a vista mal te alcança! Antes nascesses mais cedo, Estrela da madrugada! E não já noite cerrada... Que até no céu mete medo Ver essa estrela isolada... Antes nascesses mais cedo. Estrela da madrugada! João de Deus

Navio

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Tenho a carne dorida Do pousar de umas aves Que não sei de onde são: Só sei que gostam de vida Picada em meu coração. Quando vêm, vêm suaves; Partindo, tão gordas vão! Como eu gosto de estar Aqui na minha janela A dar miolos às aves! Ponho-me a olhar para o mar: —Olha-me um navio sem rumo! E, de vê-lo, dá-lhe a vela, Ou sejam meus cílios tristes: A ave e a nave, em resumo, Aqui, na minha janela. Vitorino Nemésio