O navio de espelhos




O navio de espelhos

não navega cavalga

Seu mar é a floresta

que lhe serve de nível

Ao crepúsculo espelha

sol e lua nos flancos

Por isso o tempo gosta

de deitar-se com ele

Os armadores não amam

a sua rota clara

(Vista do movimento

dir-se-ia que pára)

Quando chega à cidade

nenhum cais o abriga

O seu porão traz nada

nada leva à partida

Vozes e ar pesado

é tudo o que transporta

(E no mastro espelhado

uma espécie de porta)

Seus dez mil capitães

têm o mesmo rosto

A mesma cinta escura

o mesmo grau e posto

Quando um se revolta

há dez mil insurrectos

(Como os olhos da mosca

reflectem os objectos)

E quando um deles ala

o corpo sobre os mastros

e escruta o mar do fundo

Toda a nave cavalga

( Como no espaço os astros)

Do princípio do mundo

até ao fim do mundo.

-Mário Cesariny

Comentários

Anónimo disse…
este é o poema que os piscianos tem como: O Poema!
abraços,
T.

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