Mensagens

A mostrar mensagens de abril, 2005
Ode a Eros Eros, Cupido, Amor, pequeno Deus travesso Com quem todos brincamos! Brincando nos ferimos, Ferindo-nos gozamos, Se rimos já choramos, Mal que choramos rimos... Já, voltados do avesso, Por igual o voltamos, O torturamos nós como ele nos tortura, Descemos aos recessos da criatura... Pequenino gigante! Sonhava, ou não sonhava, Quem te representou risonho e pequenino Que de Hércules a clava Não pesa como pesa a tua mão de infante, Nem seu furor destrói Como nos dói Teu riso de menino? Nas tuas leves setas Nas flâmulas gentis Que cantam os poetas E os namorados juvenis, Que longos ópios e letais licores, Que pântanos de lodo e que furores, Que grinaldas de louros e de espinhos, Que abissais labirintos de caminhos! Mascarilha de seda e de veludo Sob a qual o olhar brilha, a boca ri, Que olhar ambíguo ou mudo, Que boca atormentada Não terás além ti Na mascarada? Pai da Crueldade e da Piedade, Filho do Crime e da Beleza, Que infante serás tu, que, desde que há Idade, Aos Ícaros opõe
A fome de Camões Este vulto, portanto, que caminha Altas horas, ao frio das nortadas, É Camões que se definha Nas ruas de Lisboa abandonadas. É Camões que a sorte vil, mesquinha, Faz em noites de fome torturadas, Ele o velho cantor de heróis guerreiros!... Vagar errante como os vis rafeiros. Morreu-lhe o escravo, o seu fiel amigo, O seu amparo e seu bordão no mundo, Morreu-lhe o humilde companheiro antigo, No seu vácuo deixando um vácuo fundo. Hoje, pois, triste, velho, sem abrigo, Faminto, abandonado e vagabundo, Tenta esmolar também pelas esquinas. Ó lágrimas!... Ó glória! Ó ruínas!... Gomes Leal , A fome de Camões
Estigma Filhos dum deus selvagem e secreto E cobertos de lama, caminhamos Por cidades, Por nuvens E desertos. Ao vento semeamos o que os homens não querem. Ao vento arremessamos as verdades que doem E as palavras que ferem. Da noite que nos gera, e nós amamos, Só os astros trazemos. A treva ficou onde Todos guardamos a certeza oculta Do que nós não dizemos, Mas que somos. José Carlos Ary dos Santos