As fadas


As fadas...eu creio nelas!

Umas são moças e belas,

Outras, velhas de pasmar...

Umas vivem nos rochedos,

Outras, à beira do mar...


Algumas em fonte fria

Escondem-se, enquanto é dia,

Saem só ao escurecer...

Outras, debaixo da terra,

Nas grutas verdes da serra,

É que se vão esconder...


O luar é os seus amores!

Sentadinhas entre as flores,

Ficam horas sem fim,

Cantando suas cantigas,

Fiando suas estrigas,

Em roca de ouro e marfim.


Umas têm mando nos ares;

Outras, na terra, nos mares;

E todas trazem na mão

Aquela vara famosa,

A varinha de condão!


Mas com tudo isto, as fadas

São muito desconfiadas:

Quem as vê não há-de rir,

Querem elas que as respeitem,

E não gostam que as espreitem,

Nem se lhes há-de mentir.


E têm vinganças terríveis!

Semeiam coisas horríveis,

Que nascem logo do chão...

Línguas de fogo,que estalam!

Sapos com asas, que falam!

Um anão preto! Um dragão!


Quantas vezes, já deitado,

Mas sem sono, inda acordado,

Me ponho a considerar,

Que condão eu pediria,

Se uma fada, um belo dia,

Me quisesse a mim fadar...


Oh, se esta noite, sonhando,

Alguma fada, engraçando

Comigo (podia ser)

Me tocasse coa varinha

E fosse minha madrinha,

Mesmo a dormir, sem a ver...


E que amanhã acordasse

E me achasse... eu sei! me achasse

Feito um príncipe, um emir!...

Até já, imaginando,

Meus olhos se estam fechando...

Deixa-me já já dormir!

Antero de Quental


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