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A mostrar mensagens de novembro, 2004
A bunda que engraçada A bunda, que engraçada. Está sempre sorrindo, nunca é trágica. Não lhe importa o que vai pela frente do corpo. A bunda basta-se. Existe algo mais? Talvez os seios. Ora ? murmura a bunda ? esses garotos ainda lhes falta muito que estudar. A bunda são duas luas gêmeas em rotundo meneio. Anda por si na cadência mimosa, no milagre de ser duas em uma, plenamente. A bunda se diverte por conta própria. E ama. Na cama agita-se. Montanhas avolumam-se, descem. Ondas batendo numa praia infinita. Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz na carícia de ser e balançar. Esferas harmoniosas sobre o caos. A bunda é a bunda, rebunda. Carlos Drummond de Andrade
Língua portuguesa Última flor do Lácio, inculta e bela, És, a um tempo, esplendor e sepultura: Ouro nativo, que na ganga impura A bruta mina entre os cascalhos vela... Amo-te assim, desconhecida e obscura. Tuba de alto clangor, lira singela, Que tens o trom e o silvo da procela, E o arrolo da saudade e da ternura! Amo o teu viço agreste e o teu aroma De virgens selvas e de oceano largo! Amo-te, ó rude e doloroso idioma, em que da voz materna ouvi: "meu filho!", E em que Camões chorou, no exílio amargo, O gênio sem ventura e o amor sem brilho! Olavo Bilac
Pequenas considerações sobre o futuro das coisas Uma ponta de lápis que se cravou na minha mão os pássaros que voam para sul no Inverno. O nosso Inverno que é Verão do lado de lá do mundo os oceanos que compõem a maior parte da Terra. a vida das árvores a mulher o feto ainda incógnito que nasce no útero as estrelas que vemos no céu depois de mortas. O que é Eterno o pó que os nossos passos levantam as memórias a História os Homens uma pegada na lua o fundo do mar um soneto de Antero o meu irmão as ondas inesgotáveis que me fazem respirar a voz de Jacques Brel cantando Les Marquises. Os cabelos de uma mulher contornando-lhe o pescoço. A musica que ecoa do contacto das coisas. O fumo de um cigarro o contacto da tua pele na minha as mãos um golo num copo e um mundo líquido a incerteza dos dias e a minha morte no futuro os livros que li os que não li as palavras que não pude escrever aqui as mares por influência da lua e a vida por influência do sol e
composto por Bernardo Soares , ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa (Fragmentos) 10. "Tudo me interessa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre; fixo os mínimos gestos faciais de com quem falo, recolho as entoações milimétricas dos seus dizeres expressos; mas ao ouvi-lo, não o escuto, estou pensando noutra coisa, e o que menos colhi da conversa foi a noção do que nela se disse, da minha parte ou da parte de com quem falei. Assim, muitas vezes, repito a alguém o que já lhe repeti, pergunto-lhe de novo aquilo a que ele já me respondeu; mas posso descrever, em quatro palavras fotográficas, o semblante muscular com que ele disse o que me não lembra, ou a inclinação de ouvir com os olhos com que recebeu a narrativa que me não recordava ter-lhe feito. Sou dois, e ambos têm a distância - irmãos siameses que não estão pegados."
poema de haver erro em dia novo abriu os dedos ao devir da palavra como num rolo enxugou as tintas frescas da parede lamentando ter perdido a cedilha do tempo. eram 10 horas. errava ainda a par da primavera, o outono chiando, num descanso taciturno, atrapalhou-se com os minutos, enfiados nas algibeirase foi-se o dia começava amanhã novo não chegara ainda o tempo das vírgulas. Morreu num poema de haver erro em dia novo enquanto tentava atravessar o ( livro ) de ponto. Mariana Matos
A mulher que passa Meu Deus, eu quero a mulher que passa. Seu dorso frio é um campo de lírios Tem sete cores nos seus cabelos Sete esperanças na boca fresca! Oh! Como és linda, mulher que passas Que me sacias e suplicias Dentro das noites, dentro dos dias! Teus sentimentos são poesia Teus sofrimentos, melancolia. Teus pêlos são relva boa Fresca e macia. Teus belos braços são cisnes mansos Longe das vozes da ventania. Meu Deus, eu quero a mulher que passa! Como te adoro, mulher que passas Que vens e passas, que me sacias Dentro das noites, dentro dos dias! Por que me faltas, se te procuro? Por que me odeias quando te juro Que te perdia se me encontravas E me encontravas se te perdias? Por que não voltas, mulher que passas? Por que não enches a minha vida? Por que não voltas, mulher querida Sempre perdida, nunca encontrada? Por que não voltas à minha vida Para o que sofro não ser desgraça? Meu Deus, eu quero a mulher q